O cérebro sente fome

“Pobreza de espírito” é apenas um ditado popular, mas “pobreza de cérebro” é muito mais que uma simples frase, é realidade comprovada pela neurociência.

Em 2015, a professora americana de neurociência Kimberly Noble, realizou um estudo através do método de neuroimagem que comprovou a relação entre a pobreza, a estrutura e a função cerebral.

Desde esta esta descoberta, os neurocientistas mergulharam neste campo e encontraram respostas que justificam que pobreza e a desnutrição impactam a morfologia cerebral, o desenvolvimento dos sistemas de atenção, a memória de trabalho, a flexibilidade cognitiva, a linguagem e o sistema regulatório.

Custos Cerebrais da Pobreza

Em seu livro “Pobre de Cérebro”, o neurocientista e pesquisador argentino Sebastián Lipina, associa os baixos níveis de renda familiar com o déficit no desempenho cognitivo, e a consequência dessa associação é uma reação em cadeia:

Os problemas de crescimento físico e desempenho acadêmico, provenientes do déficit no desempenho cognitivo, interferem nos processos iniciais da organização cerebral como a síntese de neurotransmissores, e a formação dos neurônios no metabolismo energético das células neurais, que por fim impactam na velocidade do processamento de informações, o controle emocional e as competências da memória e aprendizagem.

Mas nem tudo está perdido. É verdade que os 1.000 primeiros dias de vida de um ser humano são cruciais para a formação neural, mas existem as chamadas “janelas de oportunidade”. Do ponto de vista da neurociência, estas janelas são na verdade intervenções feitas até os 7.000 primeiros dias do bebê que ajudam reduzir os impactos causados pelo déficit cognitivo. Essas intervenções são possíveis por causa da plasticidade neuronal, que é a capacidade de reorganização e transformação do sistema nervoso em decorrência da sua interação com o ambiente. No entanto, se as oportunidades não forem aproveitadas, pode ser que os danos durem até o final da vida do indivíduo.

O herói da vez

Além de trazer respostas, a neuroimagem é uma ferramenta muito defendida pelos neurocientistas por ter a capacidade de sensibilizar as pessoas sobre o efeito degradante que a pobreza e a fome desempenham na formação neuronal e consequentemente nas perspectivas de futuro de milhões de pessoas.

Fonte: Jornal do Brasil